El desasosiego de Florbela Espanca
En un reciente viaje a Lisboa, mientras hojeaba por hojear poesía en una librería del Chiado, me crucé de pronto con esta mujer que aquí veis:
Adopta para la foto una pose elegante. La elegancia está representada en esa mano musical, en esos cuatro dedos preparados para ejecutar un acorde de guitarra o un arpegio de piano. Largo cuello delicado sobre el que se deslizan las perlas con naturalidad. Rostro,cuello, mano y collar resaltando su luz sobre el negro dominante que pasa a segundo término. Mis felicitaciones al fotógrafo, ¿su padre, tal vez? Hay más contrastes, nos dicen sus ojos: la mundana apariencia se retrae ante la súplica de la mirada atribulada, enfermiza, fruto del desasosiego interior. ¿Quién parece sufrir tan hondamente? Es la poetisa Florbela Espanca quien me mira -nos mira- así. Abro su Livro das mágoas y su voz fluye como la niebla que todo lo turba :
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
¡Pobre Florbela, poetisa maldita! Me acerco a su vida y descubro que esta no fue fácil para ella porque, como pasa a veces, su existencia se pobló de demonios interiores. Nació en 1894 en el Alentejo profundo pero estaba destinada a no conformarse nunca con su destino, a una búsqueda dramática de una felicidad que no llegó a aposentarse en su vida. Ella, la loca, la casquivana, la poetisa que escribía sonetos que no acababan de convencer a sus editores:
Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;
Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!
E abrir os braços e viver a vida:
- Quanto mais funda e lúgubre a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!
E, acabada a tarefa... em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!
Buscó el amor en el primer dolor platónico adolescente, João , en sus tres maridos, en sus amantes, en la íntima relación con su hermano, fallecido trágica y prematuramente, en los hijos frustrados que nunca fueron,... Expresó el amor como no debía expresarlo una mujer en los albores del siglo XX, amor erótico, anhelante y desconsolado:
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
***
BLASFÉMIA
Silêncio, meu Amor, não digas nada!
Cai a noite nos longes donde vim…
Toda eu sou alma e amor, sou um jardim,
Um pátio alucinante de Granada!
Dos meus cílios a sombra enluarada,
Quando os teus olhos descem sobre mim,
Traça trémulas hastes de jasmim
Na palidez da face extasiada!
Sou no teu rosto a luz que o alumia,
Sou a expressão das tuas mãos de raça,
E os beijos que me dás já foram meus!
Em ti sou Glória, Altura e Poesia!
E vejo-me _milagre cheio de graça_
Dentro de ti, em ti igual a Deus!…
Florbela decidió acabar con su vida el mismo día en que hubiese cumplido 36 años. Enferma de cuerpo y de espíritu decide entregarse a la muerte y dispone que cubran de flores el ataúd.
Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem para mim, pra me levar.
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada.
Quem sou eu neste mundo?A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar
E que, ao abri-las, não encontrou nada!
Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste
Dentro de ti?... Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!...
Para saber más sobre Florbela Espanca:
José Carlos Fernández: Florbela Espanca, poetisa del amor.Biografía y poesía completa.
Editorial Esquilo
![]() |
¡Ay de los demonios que llevamos dentro! |
Adopta para la foto una pose elegante. La elegancia está representada en esa mano musical, en esos cuatro dedos preparados para ejecutar un acorde de guitarra o un arpegio de piano. Largo cuello delicado sobre el que se deslizan las perlas con naturalidad. Rostro,cuello, mano y collar resaltando su luz sobre el negro dominante que pasa a segundo término. Mis felicitaciones al fotógrafo, ¿su padre, tal vez? Hay más contrastes, nos dicen sus ojos: la mundana apariencia se retrae ante la súplica de la mirada atribulada, enfermiza, fruto del desasosiego interior. ¿Quién parece sufrir tan hondamente? Es la poetisa Florbela Espanca quien me mira -nos mira- así. Abro su Livro das mágoas y su voz fluye como la niebla que todo lo turba :
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
¡Pobre Florbela, poetisa maldita! Me acerco a su vida y descubro que esta no fue fácil para ella porque, como pasa a veces, su existencia se pobló de demonios interiores. Nació en 1894 en el Alentejo profundo pero estaba destinada a no conformarse nunca con su destino, a una búsqueda dramática de una felicidad que no llegó a aposentarse en su vida. Ella, la loca, la casquivana, la poetisa que escribía sonetos que no acababan de convencer a sus editores:
Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;
Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!
E abrir os braços e viver a vida:
- Quanto mais funda e lúgubre a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!
E, acabada a tarefa... em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!
Buscó el amor en el primer dolor platónico adolescente, João , en sus tres maridos, en sus amantes, en la íntima relación con su hermano, fallecido trágica y prematuramente, en los hijos frustrados que nunca fueron,... Expresó el amor como no debía expresarlo una mujer en los albores del siglo XX, amor erótico, anhelante y desconsolado:
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
***
BLASFÉMIA
Silêncio, meu Amor, não digas nada!
Cai a noite nos longes donde vim…
Toda eu sou alma e amor, sou um jardim,
Um pátio alucinante de Granada!
Dos meus cílios a sombra enluarada,
Quando os teus olhos descem sobre mim,
Traça trémulas hastes de jasmim
Na palidez da face extasiada!
Sou no teu rosto a luz que o alumia,
Sou a expressão das tuas mãos de raça,
E os beijos que me dás já foram meus!
Em ti sou Glória, Altura e Poesia!
E vejo-me _milagre cheio de graça_
Dentro de ti, em ti igual a Deus!…
Florbela decidió acabar con su vida el mismo día en que hubiese cumplido 36 años. Enferma de cuerpo y de espíritu decide entregarse a la muerte y dispone que cubran de flores el ataúd.
Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem para mim, pra me levar.
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada.
Quem sou eu neste mundo?A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar
E que, ao abri-las, não encontrou nada!
Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste
Dentro de ti?... Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!...
Para saber más sobre Florbela Espanca:
José Carlos Fernández: Florbela Espanca, poetisa del amor.Biografía y poesía completa.
Editorial Esquilo
Comentarios
Quizá ella fue más valiente que yo!
Gracias por permitirme conocerla.
Bicos.